Abate de visons infectados por COVID-19. Um convite à reflexão.




Em pleno século XXI, a crise dos visons, infectados por COVID-19 e levados por isso ao abate, veio apenas despertar ao mundo uma crise de valores profundamente arraigados a uma mentalidade totalmente ultrapassada e medieval. Veio apenas expor a crueldade a que milhares de animais estão sujeitos, para que seus pêlos sejam utilizados pela indústria têxtil. São visons, coelhos, raposas, chinchilas, guaxinins, furões, esquilos, cães, gatos, etc. Condenados a uma brutalidade para que seus pêlos e peles sejam transformados em casacos, sapatos, malas, relógios, brincos e muitas outras peças. E, não nos enganemos. O problema não é só de quem produz esses animais para obtenção do pêlo. O problema também é dos consumidores que não fazem escolhas mais conscientes. Para além disso, o problema já não é só da China, da Dinamarca ou de Espanha. Este é um problema de todos nós, que achamos normal levar animais à concatenação em espaços minúsculos, sendo torturados e levados ao abate para o seu consumo e/ou para utilização de suas peles. Já não vivemos numa era medieval e o nosso nível de consciência precisa evoluir. Ou então qualquer outro nível de evolução será completamente desnecessário, pois o planeta não resistirá aos níveis de ameaça a que continuamos a sujeitá-lo. 

O mundo precisa repensar a sua relação com a natureza. Precisa repensar se é normal matar animais. Matá-los por electrocussão anal/vaginal, por asfixia, afogamento, deslocação cervical, pancada, envenenamento ou por exposição a gases. Todos métodos permitidos por lei e habitualmente utilizados por todo o mundo. Uma vez mais, não nos enganemos. Para que o bife apareça em nossos pratos e os casacos de pele nos armários, é preciso que esses animais morram. E não nos enganemos, Portugal não é diferente dos outros países e por cá também a lei está regulamentada para a criação de animais para utilização de peles e pêlos pela indústria têxtil. Aliás, segundo o site da ANIMAL, em 2005, uma quinta de criação de chinchilas, em Peso da Régua, foi encerrada devido à não obtenção de licença para operar. Eram produzidas 500.000 peles de chinchilas anualmente e os animais eram mortos por deslocação cervical, método habitualmente utilizado para não danificar o pêlo.

Ora, é sabido que os animais possuem sistemas nervosos muito semelhantes ao nosso, reagindo fisiologicamente, tal como nós,  à dor. O diencéfalo (parte cerebral que reage a impulsos de emoções e sensações) é bastante desenvolvido em muitas outras espécies, principalmente nos mamíferos e aves. Pelo, que é frequente observar-se consequências como automutilação e canibalismo, devido ao stress sofrido por esses animais.

Assim sendo, agimos como especistas, permitindo que os interesses da nossa espécie dominem os interesses dos membros de outras espécies. E, como bem referiu Peter Singer  (no livro Animal Liberation), “Para evitarmos o especismo, devemos admitir que os seres que são semelhantes em todos os aspectos relevantes têm um direito semelhante à vida - e a mera pertença à nossa própria espécie biológica não pode constituir um critério moral válido para a concessão deste direito”. É um conceito que merece a nossa reflexão moral. Estima-se que cerca de 40 a 60 milhões de animais sejam criados, anualmente, em fazendas industriais para que suas peles sejam utilizadas pela indústria têxtil, sendo a maior parte localizadas na Europa. Nossos valores precisam ser urgentemente questionados e este tema não pode ser tão facilmente esquecido. Foram míseros os minutos de audiência dedicados a este tema nos meios de comunicação e nenhum posicionamento político. Assim, cabe a nós como consumidores, dizermos NÃO aos produtos confecionados com pele e pêlos de animais.

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