Censura aos produtos de origem vegetal

censura produtos vegetais


Em pleno século de urgência climática, a União Europeia comete um grande falhanço ético nas votações à alteração 171, que censura os produtos de origem vegetal a utilizarem determinado tipo de linguagem, embalamento ou imagem relacionada a produtos lácteos.


Foram 124 votos contra a alteração,  37 votos a favor e 10 abstenções. Contudo, o Conselho e o Parlamento são órgãos independentes e nem sempre possuem as mesmas prioridades. Ora se o objetivo é a defesa do consumidor, em que medida esses direitos estão a ser defendidos, quando impedem que os consumidores se sintam suficientemente esclarecidos ao pretenderem consumir um determinado produto? Em termos práticos a emenda pode proibir:  o uso das palavras "leite" e "iogurte"; informações como "alternativa sem lactose ao leite lácteo"; informações sobre a textura e o sabor dos alimentos à base de plantas como "cremoso" ou "amanteigado"; o uso de embalagens (forma, cor e códigos) que se assemelhem a produtos lácteos não vegetais; o uso de imagens de uma bebida branca de base vegetal, em contextos que se assemelhem ao consumo de um produto não vegetal (como um cappuccino com espuma); informação sobre o impacto ambiental dos alimentos, inclusive a menção comparativa da pegada de carbono de produtos de origem vegetal e produtos lácteos.

A decisão é apenas um profundo falhanço ético, após o lançamento da "Farm to Fork", como parte do acordo Europeu verde, visando tornar os sistemas alimentares justos, saudáveis e amigos do ambiente, conforme descrito no próprio site da Comissão Europeia - "Farm to Fork Strategy - for a fair, healthy and environmentally-friendly food system". Uma estratégia que visa acelerar a transição para padrões de consumo alimentares mais sustentáveis, com impacto ambiental neutro ou positivo, revertendo a perda de biodiversidade, promovendo a garantia de acesso a alimentos seguros e sustentáveis, fomentando a competitividade e o comércio justo. É esta a estratégia da Comissão Europeia, que simplesmente entra em severo conflito com a emenda 171. Um contrasenso abismal, se o que se pretende é reverter os impactos climáticos, na esperança de atingirmos a neutralidade carbónica  até 2050. Desta forma teremos de contar, de facto, com a esperança, pois os acordos e as convenções de nada valem enquanto os lobistas continuarem a ter espaço para interceder e interferir naquilo que já deveria ser um ponto mais do que assente - é urgente proteger o clima. E é apenas com acesso à informação que os consumidores poderão efetuar escolhas mais conscientes. Sejam veganos ou não, qualquer mínima redução no consumo de produtos de origem animal, trará com certeza grandes impactos a nível global, no que concerne à proteção do meio ambiente.

No passado dia 22 de Fevereiro, diversas ONG's exortaram assim a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia a rejeitar a alteração 171, de forma a impedir a rotulagem desnecessária de productos lácteos de origam vegetal. Existe também uma petição a decorrer, com o intuito de tentar reverter este cenário. A todos os que são pró-clima, segue o link da petição no site da Proveg International: https://stopam171.com/pt/.


Fontes:

https://ec.europa.eu/food/farm2fork_en

http://assembly.coe.int/nw/xml/Votes/DB-VotesResults-EN.asp?VoteID=37881&DocID=18997&MemberID=

https://stopam171.com/pt/

https://www.safefoodadvocacy.eu/ngos-call-on-the-commission-and-council-to-reject-restrictions-on-the-labelling-of-plant-based-products/

https://www.safefoodadvocacy.eu/wp-content/uploads/2021/02/NGO-Letter-PB-Dairy-Restrictions-AM171-Feb21.pdf


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